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sábado, janeiro 31, 2004

Mais triste que gostar de alguém que não existe, é gostar de alguém triste, sem tempo inventado e escorrido, estendido a secar. Sabes isso. Confiei-to.
Se eu não gostasse tanto de nós, apaixonava-me. Só porque tens essa tempestade inadiável dentro de ti. Só porque sentes duas vezes antes de pensar. Só porque te dás fingindo que não. Só porque finges tão mal.
O dia cresceu decalcado na chuva, com as casas e campos azuis em contramão. Hoje prefiro pensar que nada é efémero. Que existem mais palavras que coisas, a guardá-las em colmeias. Pensamentos enxame. Sentimentos âmbar. Não acredito que te repitas. Existem mais palavras.
O dia cresceu e foi comido sem talheres. Os campos e as casas azuis em contramão. Comido à pressa.
Hoje prefiro pensar que te tenho abraçado e que não vais ficar triste. Por muito que dure a tempestade.

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Imagina-te em Viena. (ruas quase extintas na luz, valsas dentro e fora das casas)
Imagina-te em Bratislava. (azuis e verdes baixos e um castelo dó, ré)
Imagina-te em Praga. (ponte através e pragas de frio, com roxos e azuis a afunilar no céu, grito)
Imagina-te na Cracóvia. (uma praça com redondos suspiros: n dá mesmo para subir até ao laranja de Varsóvia?)
Imagina-te em Auschwitz. (branco neve e arame)
Imagina-te em Budapeste. (um rio, aparatos e gente perfeita nas margens)

Cirurgia. (Estou farta de estar triste e à espera)
Hora de sentir terra rodar nos pés.

Nota: Levar luvas e pouco sono. Moedas para postais.
Calor? O calor inventa-se.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

SALDOS
ou não... a verdade é que anda por , , e um estranho vírus...

terça-feira, janeiro 27, 2004

QUE

sábado, janeiro 24, 2004

Esta menina gira gira. Esta menina apareceu de surpresa em casa. Fez-me sentar no chão do corredor para ouvir uma música. Fez-me dormir só porque eu tinha sono. Mandou-me uma mensagem para o telemóvel preocupada com a minha ausência, quando eu estava no duche. Entrou-me quarto adentro já depois das 3 da manhã, juntamente com um outro menino, com bolachas, uma viola e coisas para contar em mais de um "intervalo de estudo". Riu-me e chorou-me. Sentou-se comigo aos pés da catedral a ver o sol cair. Irritou-me nas suas concepções de vida e Deus e mails sentimentais. Fez-me contar os 23 segundos que demorava o elevador até ao 5º andar, porque sentia a falta dela pela casa. Esta menina fez dos meus dias em Salamanca poços de sol, com a neve à mistura. Esta menina ainda vive num quarto ao lado.

Os meus olhos trapézio.
A conversa a girar: esquerda, direita, esquerda, caída sobre a mesa. Estás à minha esquerda.
Chamas-te como?
Os meus olhos desequilíbrio. Abertos, pestanejar, abertos contigo dentro.
Como é que te chamavas?
As árvores perdem a altura lá fora. Na mesma poeira branca que consome os tectos das casas que cresceram demais.
Que idade tens?
Nos meses que nos rondámos não trazias essa realidade a impregnar-te os ossos. Saías para o frio e era como se nada te vestisse. Agora tens novidades que me fazem tonta. Espera.
Espera.
Espera.
Esqueci-me... Tinhas que idade?
Espera.
Estás à minha esquerda e os teus braços são conhecidos. Mas a música parte deles com cor diferente. Com sílabas diferentes.
“Vá. Tu conheces-me.”
Sim. Espera.
As árvores lá fora destilam na luz. Como gargantas sem voz.
Espera. Os meus olhos trapézio.
Chamas-te...
Espera.
Há uma extensão de ti que traz nome. Não a conhecia. Parte de ti que eu não conhecia.
Idade e nome. Daí que precise de mesa e de que te demores nos meus olhos trapézio. Desequilíbrio.
Só porque me disseste que não morres. Que vais nascer em Maio.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

A caminho de casa, com uma mão no bolso, outra a baralhar os dedos nas alças do saco. O céu a descer. Cascas de laranja. As ideias e a falta de mim a baralhar-se nos dedos. O céu a descer e os prédios a subir nele como aranhas. O céu a descer e as nuvens como um genérico.
(Falta de mIM)
Um autocarro pára. Uma mulher desce. Pára e volta-se a agarrar pelo corpo inteiro a pequena que ainda estava nos degraus imensos do transporte público. Agarra-a pelo corpo inteiro, num abraço interior. Como se dissesse "minha". Como se dissesse "eu". A pequena de braços estendidos a baralhar-se no rosto e cabelo da mulher. Concordância de advérbios de modo. Integralmente. Totalmente. Como se dissesse "tua". Como se dissesse "eu".
(Falta de mIM) descer com o céu. A deixar-me no chão.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

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le
af
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11
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1
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(e. e. cummings)

Impossível estudar quando tenho 1 1ivro a tremer nas mãos.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

botão direito do rato, delete.
"Are you ready to delete this person?" (MSN)

Nunca estive preparada para o que fosse. Apaga.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Oxalá... O dia se vista de lã. As pessoas saiam para encher os guarda-chuvas como balões de ar quente a interromper os carros. E passem os carros como barcos. Corram conversas sem margem. Oxalá possa voar como as horas em que durmo.

domingo, janeiro 11, 2004

A noite a tricotar-se dia. Lã e arder de estearina.
É porque mãe me acordou pelos cabelos. Abriu janela e corrigiu a pontuação do sonho que sonhava. Estava tudo errado: troca de tempos verbais a nú.
Eu a ganhar pulso.
É porque mana chora nas minhas mangas e eu nem sei que lhe diga. Visto-me à sua frente enquanto procuro novos verbos no tempo certo.
Pulso a acelerar-se.
É porque pai grita a querer que lhe imiscua palavras erradas num discurso que não é meu. (Corrige. Assim não. Corrige.)
É porque avós abrem silêncios à minha passagem quando sou demasiado nova e irascível para entender o que dizem.
Pulso a toldar-se comigo dentro.
O dia a desfazer-se na lã enevoada, a encher de janelas embaciadas a rua anódina. Arder dos candeeiros bocejo.
É porque mãe traz contos cheios de acentos e razão. Sem sentido. Eu a pedir que me deixe. Depois a gritar que me deixe. Já não tenho idade para acreditar em morais certas como as contas. Que me deixe.
Pulso anacrónico. A sentir o que não sinto.
É porque mana volta com os olhos cheios. E pai volta a fazer-me algo que não sou. E avós voltam com roupas que não me servem. E mãe volta com as frases imperfeitas.
Pulsação fraca.
Ou então é só porque estou triste. Mera tautologia.

sábado, janeiro 10, 2004

Eu sei... mas deve ser porque li o livro...
Estamos a meio do filme. Elessar de regresso. A cena deriva, uma vez mais, para as montanhas onde é sempre noite e onde passeiam os pequenos hobbit. Grande plano dos dois: negro sujo e azul intenso dos olhos. A música com acentos a dramatizar. E a voz de alguém atrás:
"Estes, quem são???"
Eis que aparece Sméagol, com as grandes pupilas dilatadas (foram contraídas seria Gollum), sobre um rochedo: " We want to serve our masteeer!" E a mesma voz atrás:
"E este? É dos bons ou dos maus?"

terça-feira, janeiro 06, 2004

eu ou aquilo que não devia ter acontecido

Se insistes em abraçar-me, C., desfaço-me em sal.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

sábado, janeiro 03, 2004

Estavas aqui como a primeira frase do dia.
As perífrases dos encontros por acaso. Desenhadas como conchas urbanas.
("Estagnei nas dobradiças das portas por abrir."(4:26 am)
Porque sim. Equilibrava-se numa perna. Olhava sem olhar. À espera. E uns olhos a olhá-la olhando. À espera.
(Quem? O quê? Quando? Onde? Porquê?)
Ela trazia 8 horas por dormir, um casaco fechado e um cachecol a propagar-se pelo colo. Estava agarrada a um livro de jornalismo.
(Eu amara, tu amaras, ele amara)
Há aqui livros infantis, mas estava agarrada a um de jornalismo, como a um pretérito-mais-que-perfeito.
Fora lido ao contrário, o dia perceber-se-ia logo de manhã.

quinta-feira, janeiro 01, 2004

Dicionário 2003:
Bom Acordar
ahlma
bilhetes!
"jodela de lemon"
jinhos itos e ocas
***my love***
Xangar
letivo
lobo mau
CHUVA
4egos
asteriscos

Há palavras epicentro de que só alguns se podem apoderar.

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