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terça-feira, outubro 26, 2004

Eram dez filhos e todos se reuniam aos domingos em casa da mãe para comer a sopa. Sopa branca, sopa de carne, sopa de feijão. Todos os domingos. Cresceram, ganharam filhos e todos continuaram a ir comer a sopa a casa da mãe. Filhos e netos em volta da mesa demasiado pequena, à porta da casa a rebentar pelas janelas, a comer a sopa. Sopa de cenoura, sopa de pedra, sopa de nabiças. Todos os domingos. Um dia a mãe endoideceu. Esqueceu-se de como cozinhar sopa. Mas insistia em fazê-la. Fingia. E, todos os domingos, filhos e netos reuniam-se em casa da mãe-avó para comer a sopa. Sopa fingida, sopa faz-de-conta, sopa cala-te-e-come. Levavam a colher à boca e sorriam e diziam que estava boa de sal. Todos os domingos davam as mãos por debaixo da mesa demasiado pequena e sorriam e diziam que estava boa.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Previsão para amanhã:
"Chuva forte à tarde e possibilidade de queda de árvores."
É Outono em Braga. Já contei quatro.

domingo, outubro 24, 2004

As tristezas e sorrisos têm o mesmo grau de contágio.

quinta-feira, outubro 21, 2004

A cidade doba-se com o amanhecer. No barulho das árvores suspensas, no gemido das árvores caídas. O vento são dedos pelos cabelos, são mãos pelo corpo, são casacos entreabertos, são cores a fugir, são carrocéis de folhas, são escamas nos edifícios, são.
Gente parada.
A chuva inconsolável.
O vento são cabelos contra a luz, são mãos na cara a cruzar as bocas de vidro, estreladas.
Gente parada.
Os olhares cruzam-se em torno das bocas. No silêncio das árvores suspensas, em torno das árvores caídas.
A chuva inconsolável.

sábado, outubro 16, 2004

As castanhas são castanhas por causa do castanho, ou o castanho é castanho por causa das castanhas?

quarta-feira, outubro 13, 2004

PALAVRA DO DIA

E S P A Ç O

sexta-feira, outubro 08, 2004

The morning bell
The morning bell


O vento gigante. A desprender as cortinas, a insuflar cortinas. A ver-se reflectido no espelho com o eu (me, mi, migo). Eu e balões. Um pé descalço, o outro por calçar. A roupa espalhada sem combinação possível. Eu sem tamanho possível. Quando a música entra sem bater, estou a falar baixo, a soprar pensamentos e a vê-los ganhar forma. Azul involuntário, ácido doce. A debater-se contra o vento gigante.

"Light another candle and
Release me
Release me

You can keep the furniture
A bump on the head
Howling down the chimney
Release me
Release me
Please
Release me
Release me

Where'd you park the car
Where'd you park the car
Clothes are on the lawn with the furniture
Now I might as well
I might as well

Sleepy jack the fire drill
Round and round and round

Cut the kids in half
Cut the kids in half
Cut the kids in half

I wanted to tell you but you never listened
You never understand
I wanted to tell you but you never listened
You never understand
Cos I'm walking walking walking...

The lights are on but nobody's home
Everybody wants to be a
The lights are on but nobody's home
Everybody wants to be a slave
Walking walking walking..."

(RADIOHEAD)

Quando a música entra sem bater, estou à deriva dentro das palavras baixas, dentro das palavras pequenas. Contra o espelho, o eu no espelho a ver-se reflectido comigo. O eu e balões. Um pé descalço, o outro por calçar. O vento gigante sem azul possível.

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