quinta-feira, abril 29, 2004
" Beno e Alba amaram-se intensamente, como um sol que não vacila até se extinguir, ou como a mais bela e esplêndida mentira..."
(AL BERTO)
segunda-feira, abril 26, 2004
"Conta-me."
Então estendia os dedos com a insistência e contava.
"1, 2, 3, 4..."
Não sabes porque me apareces nas mangas depois dos dias serem tantos como os poros. As simetrias trazem-te à força para seres aquilo que foste, sem distinção da verdade ou da mentira. À força de tílias vermelhas. Ao som de marés varridas.
"4, 3, 2,1..."
E o abraço eleva-me acima da linha do desmaio.
Corta-me.
quarta-feira, abril 21, 2004
Antes de tomar chá,
atente:
Há que eleger um dos seguintes locais para o saber apreciar:
"Sob os bambus ou os pinheiros;
Perto de rochas e de nascentes;
Ao luar ou ao soprar da brisa fresca;
Em frente a uma janela com a vista para paisagem ou jardim."
(No caso de não os ter em casa, cultive-os...)
"As folhas secas do chá são muito sensíveis. Para servir um bom chá, deve-se fazê-lo longe do barulho e da cozinha. Os cheiros fortes são de evitar. Desde o anfitrião até aos convidados, ninguém deve usar perfume, com excepção da queima de incenso de sândalo na sala de chá, o que purifica e desinfecta o ar e ajuda ao apaziguamento da alma."
(Assim lendo acho que bebi muitos chás estragados... )
domingo, abril 18, 2004
O céu entra coalhado a desfazer as cortinas e qualquer fundo sólido. Os olhos arrependem-se e desfocam.
Malmequeres vistos de dentro, com a polpa amarela a tingir-se amarela, amarela, amarela. E sal. Os olhos arrependem-se. Devia ser noite. A de ontem. Ou anteontem. A de antes de tudo. Dava-te a pele e sol nela. Dava-te o nome para não teres de enviar-me a tristeza pelo telemóvel. Dava-te a pele.
O ar entrava como um balão pálido pelo quarto. As lágrimas vinham em pó. Os teus olhos agarrados aos vidros e eu a saber que sabias a sal.
Os olhos arrependem-se. Desfocam a luz amarela, amarela. Sol invertido a entrar na pele. A fazê-la sentir-se. Devias ser tu aqui. Dava-te a pele para não teres de fugir da tua. Ontem. Ou anteontem. Antes da noite em que soube a que sabias.
"Tu és mesmo assim?"
E subitamente os braços não são os meus braços, as pernas não são as minhas pernas, a barriga, o umbigo, os dedos, a unha roída que descoso da boca, o cabelo que se solta e volto a prender com movimento do pulso, o pulso... deixam de ser "eu" para assumir o "tu" que é "mesmo assim". O "assim". O "mesmo". Disperso. Obtuso. A ganhar coerência no espaço calado entre a pergunta e o que respondo.
sexta-feira, abril 09, 2004
"
Amor, amor, como sempre quisera cobrir-te de flores e de insultos"
(VINCENZO CARDARELLI)
quinta-feira, abril 08, 2004
“A gazela e as estrelas” (GRAÇA CASTANHEIRA)
Sim. A luz passa a fase do vidro pelas seis. O calor instala-se então como um circo. Pelos cabelos. Pelo que era ainda frio nos cabelos. Pelos olhos. Como um circo.
Não há mais estrelas, nem sequer as “boémias” – as tardias, “amalucadas”, que se “apaixonam e riscam o céu”.
O céu é lençol dobrado, arrumado acima dos prédios. O calor instala-se e estala.
Hora de deitar.
(Finge-se o escuro com o fumo que se sacode da camisola e calças e meias e elástico do cabelo.)
(Finge-se adormecer com as roupas que se despem.)
O sol instala-se ao lado. E a noite começa dentro dos olhos. Como um circo tardio. Com os erres enrolados e diálogos repetidos, gravados e riscados. Uma vez.
Quatro, Sete, nove, quinze, vinte e três, trinta. Meio dia e trinta.
Meio dia e trinta e uns gramas que deixo na cama por me levantar tão rápido. Por ser tão bruscamente cedo e tarde. O circo instalado estala de cima abaixo, com o calor. Tardio.
Os joelhos balançam na cama sem saber do resto do corpo. Do saber por saber.
“Não sabes?”
“Não.”
E a história da gazela dança na voz como se tivesse corpo. Sim. É noite de vez nas roupas por despir. A noite trepa-te pelas costas para te ouvir. Acerca-se do teu rosto. Instala-se.
“Não sabes? Existes porque
és bonita!”
Sim.
segunda-feira, abril 05, 2004
aos quadradinhos
26 Fev 04, Stephansplatz, Viena.
(Juntem-se... mais.. mais... mais. Assim... Agora podem agarrar a neve....hmmm... assim não...cheguem-se para lá, quero apanhar a catedral... assim...hmmm... assim não te vejo a ti... deitaste a neve ao chão para quê? Apanha... vá... agora... juntem-se... está?)
3
2
1
ACÇÃO!
A primeira
lomo, sem projectos nem ensaios, como vinha nas instruções!
domingo, abril 04, 2004
coisas que me fazem cócegas na barriga ou
um post na moda
Que me chamem pelo nome quando tenho nickname.
Que me chamem pelo nickname (com os extensos) quando tenho nome.
Que falem a sério quando brinco.
Que brinquem quando falo a sério.
Que não percebam quando estou a brincar.
Que não percebam quando estou a falar a sério.
Que falem a brincar e eu não perceba.
Que não percebam que eu não percebi.
Que percebam que eu não percebi e continuem a brincar.
Que se despeçam com um "xau". (E estou a falar a sério!)
Que não se despeçam.
Que me achem confusa...
PS: Encontrei um caderno onde escrever. O blog sobra agora para as modas e ideias mal atadas.