<$BlogRSDUrl$>

quinta-feira, abril 08, 2004

“A gazela e as estrelas” (GRAÇA CASTANHEIRA)

Sim. A luz passa a fase do vidro pelas seis. O calor instala-se então como um circo. Pelos cabelos. Pelo que era ainda frio nos cabelos. Pelos olhos. Como um circo.
Não há mais estrelas, nem sequer as “boémias” – as tardias, “amalucadas”, que se “apaixonam e riscam o céu”.
O céu é lençol dobrado, arrumado acima dos prédios. O calor instala-se e estala.
Hora de deitar.
(Finge-se o escuro com o fumo que se sacode da camisola e calças e meias e elástico do cabelo.)
(Finge-se adormecer com as roupas que se despem.)
O sol instala-se ao lado. E a noite começa dentro dos olhos. Como um circo tardio. Com os erres enrolados e diálogos repetidos, gravados e riscados. Uma vez.
Quatro, Sete, nove, quinze, vinte e três, trinta. Meio dia e trinta.
Meio dia e trinta e uns gramas que deixo na cama por me levantar tão rápido. Por ser tão bruscamente cedo e tarde. O circo instalado estala de cima abaixo, com o calor. Tardio.
Os joelhos balançam na cama sem saber do resto do corpo. Do saber por saber.
“Não sabes?”
“Não.”
E a história da gazela dança na voz como se tivesse corpo. Sim. É noite de vez nas roupas por despir. A noite trepa-te pelas costas para te ouvir. Acerca-se do teu rosto. Instala-se.
“Não sabes? Existes porque és bonita!”
Sim.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?