quinta-feira, julho 31, 2003
Ele há demências e criaturas loucas
Confesso estar entre as criaturas mais alienadas, confesso que o quanto vivi de terra não foi suficiente para me alimentar ideias assentes. Mas de quando em quando (entre inspirações/expirações nefelibatas) até registo coisas engraçadas... Durão Barroso discursava há bocadinho na TV. Falava e falava de sáude, das melhorias do sistema. Dizia que "deve dar-se prioridade aos doentes de longa duração!". Parei para olhar e rir! E duram e duram e duram estes nossos doentes! Que fazer para acabar com eles?
segunda-feira, julho 28, 2003
Não apetece, às vezes, viver num mundo esterilizado, onde a quantidade de luz seja medida, onde não possa entrar qualquer sem controlo prévio, onde os sons não sejam interrompidos só porque alguém fora decidiu falar, entrar, perturbar?E chamar, entrar, empurrar e dizer "desculpa, n foi nada"? E dizer NADA? Aqui desenho uma parede para um futuro espaço hermeticamente fechado, não contaminado pela insipidez dos outros.
Não apetece viver num mundo incrivelmente egoísta?
Tanto é o barulho que fazemos...
Olha isto!
Onde estás?
Tou?
Tás?
E que fazes por aqui?
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrsssssssssssssss
Nos enredos diurnos há carros que passam como lantejoulas nas franjas do rio.
Pessoas fotografam sem saber bem porque não podem ficar, simplesmente, até tudo acabar. Não pensam.
Um puto, costas nuas coladas aos ferros da ponte D. Luís, olha a água verde que foge, sem fundo, que foge com travos de sol engordado. Benze-se. Beija a a mão morena. Salta.
E o rio cresce à sua volta, ilumina-o por dentro.
Viste?
É doido!
Não.. Os miúdos da ribeira conhecem-na bem.. Aprendem a nadar aqui!
rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrssssssssssssssssssss
Não há peixes, só sombras nossas a vadiar na corrente.
E o sol entontece de ira.
Tanto ruído.
quarta-feira, julho 23, 2003
Procuram-se leitores
O Washington Post vai lançar The Express, um tablóide de circulação gratuita. Objectivo: encontrar leitores. Um dos mais conceituados jornais não escapa aos problemas trazidos pela falta de tempo e pela flutuação cintilante (e grátis!) da Internet. Para se darem as notícias do mundo real, nada como evocá-lo, cuidadosamente e entre linhas, dentro de textos cor-de-rosa... Como um xarope com sabores e açúcar que se dá a miúdos.
terça-feira, julho 22, 2003
Procura-se Tzero
Se eu tivesse um Tzero... não lhe daria muita importância. Intriga-me que o dono de um Tzero admita destruir paredes, apagar amarelos das paredes e arruinar bordados para, no fim, fingir que sobrevive às superfícies.. (quando teimou em acentuar-lhes a presença!)
Se eu tivesse um Tzero, olhava-o demoradamente, decorava-lhe passos nos espaços e depois saía dele silenciosamente. Falta-me sempre o ar depois de visitar quartos novos. E, sem saber encontrar quem saiba porquê, nunca consigo dormir neles. Talvez seja por causa do conteúdo que vem agarrado às frivolidades e superfícies, como cheiro a tinta!
Mas isto sou eu que arrisco inventar.
Estreita. Olhava ontem o céu de frente. Imenso. Escuro. Sem pontas. Deitada e sem sono numa areia cheia de rostos desfeitos. Cheios os pensamentos.
O céu de frente não sei que tem. Faz-me medo. Tem-me dentro da barriga.
Estive quatro noites fora. Entre a praia e as ruas. Lá. "Onde o mar a acaba e a terra principia". Quando voltava dei comigo fixa num desconhecido. O comboio agita-se, range. E eu a olhar no desalinho das carruagens uma mão, braço pendurado nos ferros, um rosto voltado e headphones nos ouvidos. Penso que somos iguais em T-shirt e idade. Penso: que será que ele ouve? O sol intervala nas janelas com o ruído e ferrugem dos carris. Sigur Ros a dar-me sono. A devolver-me o sono que não tive quando vi as estrelas - quatro - caídas ontem, naquele céu de frente.
O rapaz da T-shirt amarela saiu em Ermesinde.
terça-feira, julho 15, 2003
Ler à chuva
Sabes andar de andas?
Pena que não.. Só sei trocar, em equilíbrio fugaz, três bolas coloridas de mão para mão para mão. E isto porque me fixei num Arlequim um dia impaciente. Porque ele se fixou paciente em mim num dia. Porque me fixou o dia nos olhos. Aprendi a jogar. Mas não a andar de andas. Pena que não. Há uma empresa de animação que pagaria bem a quem soubesse... E não seria má a experiência.
Ando a ler "Nenhum olhar" de José Luís Peixoto, autor que conquista logo no rebate de umas primeiras linhas. Há universos a girar dentro e fora de personagens. A forma como segue partituras diversas sendo narrador omnisciente, por um lado, e não sabendo nada, por outro, porque encarna cada personagem, é absolutamente genial. Ora estou com uma mulher que esqueceu o corpo, ora com o homem que o rejeita, por ser maior a vida que sonhou. A paisagem é sempre cor de terra lavrada e verde, com laivos de sangue (que não se vê).
Hoje o dia em Braga categorizou-se de chuva: chuva branda, chuva miudinha, chuva arrastada com vento, chuva poeirenta, chuva fria. A chuva diagnosticada "de verão" veio acentuar as passagens da leitura.
segunda-feira, julho 14, 2003
andas
Deveria ser mais alta.. Assim apanhava com o sol em cheio na cara. Não havia ele de ficar sempre tão lá em cima a olhar-me num interlúnio, fosco, com edifícios e pessoas pelo meio. Com duas noites nos extremos.
A blog mania apanhou-me... mas tlvz por pouco tempo. Ainda tenho esperança de que algo me surpreenda e me leve para longe, bem longe desta tela pixelizada. Um livro, quem sabe.
"Nunca entres numa corrida com os atacadores desapertados". Li-o num livrinho publicitário do BES, da autoria de um qualquer petiz. Ficou-me. "Quem sabe, sabe"