Ler à chuva
Sabes andar de andas?
Pena que não.. Só sei trocar, em equilíbrio fugaz, três bolas coloridas de mão para mão para mão. E isto porque me fixei num Arlequim um dia impaciente. Porque ele se fixou paciente em mim num dia. Porque me fixou o dia nos olhos. Aprendi a jogar. Mas não a andar de andas. Pena que não. Há uma empresa de animação que pagaria bem a quem soubesse... E não seria má a experiência.
Ando a ler "Nenhum olhar" de José Luís Peixoto, autor que conquista logo no rebate de umas primeiras linhas. Há universos a girar dentro e fora de personagens. A forma como segue partituras diversas sendo narrador omnisciente, por um lado, e não sabendo nada, por outro, porque encarna cada personagem, é absolutamente genial. Ora estou com uma mulher que esqueceu o corpo, ora com o homem que o rejeita, por ser maior a vida que sonhou. A paisagem é sempre cor de terra lavrada e verde, com laivos de sangue (que não se vê).
Hoje o dia em Braga categorizou-se de chuva: chuva branda, chuva miudinha, chuva arrastada com vento, chuva poeirenta, chuva fria. A chuva diagnosticada "de verão" veio acentuar as passagens da leitura.