Não sabe ficar sozinha. O som da casa quieta fá-la pentear-se e despentear-se, afagar até desfazer as flores secas da jarra nas mãos secas, nas mãos rosas antigas, ainda por abrir. Não pode ficar sozinha. O som das escadas fá-la olhar o relógio antigo, apertar as mãos rosas e abrir-se em perguntas.
"Onde está ele?"
"Foi à rua" - e esta que mente à entrada é a filha que sempre soube que era feio. O pai está morto. É um corpo de fotografia junto às flores secas.
"Ainda não chegou? Aonde foi ele?"
"Foi à rua. Chega mais tarde" - Quer dizer que não volta, mas aquele olhar a trepar-lhe pelas pernas, pelo colo, a colher palavras de jardim imaginado da sua boca, esse olhar onde o relógio êmbolo se esvazia não lho permite. Tem olhos de "para-sempre". Queria-os felizes.
O tapete teima em enrolar-se contra a porta. Os passos secam quando abre a fechadura.
"Vou procurá-lo. E se ele não volta?"
"Esteja quieta." - Quer abraçá-la mas não pode. Seria magoá-la com braços da rua que tem carros, jardim e a igreja onde casou, mas onde ele não está. Seria desfazê-la em rosas antigas.