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quarta-feira, abril 12, 2006

Esta Lisboa que trazemos aos pés é branca como a pele. Está como estátua de sal. Treme aos nosso pés, como calçado de cristal. Esta Lisboa emudece. "O mar entra-lhe pelas janelas" à mesma hora que a noite solta a voz nas ruas. Calamos para a deixar entrar sem destino, passear pelos azulejos azuis e tectos longínquos, tornar-nos o sangue breve. Dói-nos. Deixamos entrar.
sim.
Porque nos dói. Porque nos arde.
sim.
Esta cidade traz gatos pardos no ventre, traz rezas e chapéus maduros de horas a horas certas.
(E a mesma mulher, a horas certas, que, com ganchos firmes no cabelo velho, pergunta as horas.
"Dezanove..."
"Tão cedo?... Pensei que eram dezanove para o meio dia...")
Calamos para a deixar entrar - doida, louca - subir as escadas de madeira nublada, escorrer nos sons do prédio.
Esta Lisboa, que é branca aos nossos pés, tem casas ardidas nas esquinas e um mar obtuso a correr desvairado nos andares de baixo. Faz tremer o sol a horas certas. Faz-nos doer.
sim.
Porque nos arde.

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