segunda-feira, setembro 19, 2005
'Um dia arranco-te os dentes de leite, nascem-te os dentes definitivos e estás feito!'
(MIGUEL CASTRO CALDAS in
Nunca-Terra em vez de Peter Pan)
terça-feira, setembro 13, 2005
Num passeio entre cartazes de campanha,
"Temos ideias.
Hoje por braga...
Amanhã por ti"
hoje senti-me ameaçada.
quinta-feira, setembro 08, 2005
A rua está parca. Arame entre dedos altos. De nuvens bolçadas. Está calada frente à paragem de autocarro vestida apenas pelos horários azuis descrentes. É tarde para qualquer coisa que passe. Ainda assim espera-se. Espera-se. Espera-se. Porque é tarde para outra coisa qualquer.
Chega. Traz o corpo enguia num casaco andrajoso, cor de enlatados. Arrasta os pés como cadáveres de peixes amarelos. Chega com cheiro a sal e sangue rubro. E suor. Não me olha na paragem. Chega e senta-se erguendo o joelho direito, pousando-o sobre o joelho, rotundo, esquerdo. Sem rosto. Pousando a mão descascada, cheia de mapas negros, sobre o colo. Chega a olhar o céu, como se obra sua se tratasse. Admira-o, foca-o melhor entre as pontas dos dedos cheios, luas de terra. Estou na paragem como assinatura anónima. O sem rosto que chega e espera - quando já é tarde para coisa alguma - não me vê. Cheira-me. Subitamente, como uma quebra na gravação. Cheira-me com o nariz ainda alto. Depois olha-me devagarinho. Navega pela minha figura subitamente anã. Afasta-se um pouco anunciando que tenta ignorar. Os lábios tremem como carris, no pressentimento de palavras. Ignora. Não... Escorrega um pouco mais para o fundo da paragem. Insiste no céu. Não... Olha-me escandalosamente sem rosto. E torna a olhar-me. Já não me ignora. Abandona-me com nojo.
quarta-feira, setembro 07, 2005
agora azul
agora amarelo
agora azul
És azul
agora amarelo
Tem a ver com o debruçar-se do sol dos olhos, dos teus olhos expoente. Vês? Assim. Declinados nos meus alternados.
Agora abertos
Agora fechados.
Azúis e amarelos. Dentro do dia maior, aguado, mal presenciado, à margem de. Dentro dos olhos.
Agora abertos.
Agora fecundados.
Ainda eram as noites noites por vir. Abertas em mim maior. Em sol. Decoro-te os sons de olhos fechados, quando ainda somos - vês? - desconhecidos.
"with the lights out it's less dangerous"
domingo, setembro 04, 2005
Esqueçam as dietas milagrosas. Os nãos aos gelados com chocolate, os planos corpos danone, as cintas adelgaçantes... Para emagrecer nada como uma bela depressão. Ou isso ou uma infecção na boca. Aftas, aftas, aftas a somar a aftas e aftas e mais qualquer coisinha. Todo e qualquer líquido atroará no céu da boca como se vidro moído se tratasse e quanto à comida... comida?
Garantem-se sensações de contos de fada: quartos trancados no cimo de torres, noites madrastas, desmaios e muitos, muitos beijos por dar.
"100 anos decorridos sinto-me radiante... na verdade, estou mais para o transparente." - diz alguém.
"Em 5 dias atingi o peso estonteante de 45 Kg! Estou a cair (literalmente) de tanta felicidade" - diz o outro alguém (dentro da mesma pessoa febril)
As roupas multiplicar-se-ão. Servirão como cortinas ou como toalhas de banho. E nada como recuperar as peças que já não vestia há anos, por ter 13 na altura.
(...)
Sinto-me uma refugiada...
:(