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domingo, fevereiro 29, 2004

É Viena e estamos sem norte. Noite fechada à superfície. Máscaras de pedra ao alcance da mão. Corpos de pedra. Edifícios. Gente de pedra a sair deles. Em voos de pedra. Estamos sem norte. Dentro do autocarro que passa, alguém olha-nos as mochilas, acena, aponta para a esquerda. É Viena e estamos com norte. Vai amanhecer cedo e as impressões vão estar por derreter. O corpo esquece-se de si antes de dormir.

Impressiona-me a claridade. As flechas e desenhos humanos. Os corvos que nunca vi. O eléctrico e os fios.

Bratislava e a fonte que não devia ter fotografado. Os nomes indecifráveis. A máquina de fotos sem moedas, as trocas e contas para as arranjar. A máquina com moedas. O flash sem os nossos rostos. As fotos só eu. As fotos só risos.
Falta o tempo para demorar. 5 minutos para encontrar o comboio.

O dia começa azul obtuso. Com uma estação circo. Com o meu cabelo sintético.
Praga não desaparece. Voa em círculos dentro. Sem tacto. Repentes de ausência. Ausência de mim nos telhados negros. Na altura desconstruída, oblíqua.

Neve agitada. Faz-se escuro.

O comboio passa como um travessão a introduzir-nos. Iluminado na noite densa, sem vogais. Somos três, aos turnos. Agora sou eu que não durmo.

Estou na Polónia. "Estás na Polónia!" Estou? A neve é "nevezinha". Neve por todo o lado. Sol em experiência. Fotos que escorregam. Pássaros e neve. Quadrados laranja escritos, amontoados, altos. Com interiores. Suportáveis. Lá fora o sol não passa da experiência. Temos de partir. Dar-nos. Partir. "Oh, stay! Don't U like Krakow?"

"The winter will be over in a few days..."

Praga não desaparece.

A cidade cai e quebra-se junto aos pés com o frio. Olhamo-la ainda em suspenso. Cai. Texturas líquidas, Vidros ao sol. Budapeste. Formigueiros nas mãos e nos olhos. Custa respirar ao mesmo tempo que tudo é tudo. Demasiado.
O gato dorme sobre uma cama do "Ganesh Palace". Ross também. Despido, entre vermelhos e sintomas de incenso. Ídolo.

"More sugar: nice going!"

Mochila revolvida por roupa húmida. Às costas. Esquecemo-nos de pedir contactos ou mais estórias. Não somos mais que espuma. Há que perder. "É esta a carruagem? Vamos para onde?"

"Está tudo bem, mãe! Não consegui telefonar ontem porque estava em... (estico-me fora da cabine) Onde estivemos ontem???"
"Polónia!!"
Estive?

Zagreb é azul confuso. Rodopiante. Com neve em migalhas. Nas mangas, no pescoço, na boca. Há crianças pintadas pela praça, com sons de violino. É Carnaval quando já nem medíamos o calendário.
Corremos em círculos. Rodopios. A terra sobe e desce e há pessoas nas esquinas apagadas a rezar. Sem entendimento.

Corremos em círculos. Não há quem nos devolva. Mas já passou...Não foi nada.

domingo, fevereiro 15, 2004


Fui ali e já volto.

sábado, fevereiro 14, 2004

Tenho cárie nos olhos.
Foi dos bolos.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Nada foi com a intensidade certa.
A manhã é um declive por onde descem os sons últimos. Apegados como ideias. Apagados. É já manhã. Corro.
“Corres como se o mundo fosse acabar!”, mãe esboça-se muito ao fundo da mesa redonda. Corro, com a resposta.
“O mundo não acaba, mas as pessoas vão-se embora”.
Não me entendeu.
“Chega a horas para comer!”
Corro. Levo os dedos aos olhos para os contar.
Nada com a intensidade certa. Agarram-me os pulsos, desengonçam-me os olhos. Dedos e mãos que trepam pelos ombros. Que desfazem expressões minhas como as de almofadas. Voltaremos a ver-nos, mas eu sei que não. As casas vão-se embora com as pessoas dentro. Trancadas e sem chave , vivas. Entre caixas e cotão.
Seriam horas para comer, mas eu já me esqueci. A mãe espera-me em casa, ao fundo a mesa redonda, muito ao fundo. Com expressão de tempestade.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Da minha casa à tua existem cinco casas-horas da manhã de distância. Existe uma lua ovelha e o medo do escuro. O medo de não ter medo do mesmo escuro. Noite em meias. As casas-horas vão ficar vazias. Só com o medo. A lua ovelha tem pontos de interrogação inventados, desenhados no centro da barriga.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

"From my boat I can see your house.
And when the lights are on
I can watch you move.
Hear the wind whispering your name.
Twice the encouragement
of the real you.

Time to learn. Callie,
if you really want me to
I can always get you down
if you got the money for me.
Callie, in the summer rain
you will be kept dry, you see,
if you got the money for me.

You can run away,
leave your books behind you.
But you should look back twice,
just to be on the safe side.

From my boat I can see your house.
But now the lights are off,
there is no one home.
You are just like an avalanche,
cold as I might have guessed.
But at least I’m covered up for now.

In a big big way
I am really small,
I get off my feet
but I’m still distant.
Don’t you just love goodbyes?
Don’t you just love goodbyes?

Time to burn. Callie,
let us get it over with,
I can always get you down
if you’ve got the money for me.

I won’t care for you,
like I’m really supposed to.
There are things I’ll do
that could really hurt you.
Don’t you just love goodbyes?
Don’t you just love goodbyes?
156. Don’t you just love goodbyes?"

(156, MEW)

Com quantos silêncios se diz "estou aqui"?

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