É Viena e estamos sem norte. Noite fechada à superfície. Máscaras de pedra ao alcance da mão. Corpos de pedra. Edifícios. Gente de pedra a sair deles. Em voos de pedra. Estamos sem norte. Dentro do autocarro que passa, alguém olha-nos as mochilas, acena, aponta para a esquerda. É Viena e estamos com norte. Vai amanhecer cedo e as impressões vão estar por derreter. O corpo esquece-se de si antes de dormir.
Impressiona-me a claridade. As flechas e desenhos humanos. Os corvos que nunca vi. O eléctrico e os fios.
Bratislava e a fonte que não devia ter fotografado. Os nomes indecifráveis. A máquina de fotos sem moedas, as trocas e contas para as arranjar. A máquina com moedas. O flash sem os nossos rostos. As fotos só eu. As fotos só risos.
Falta o tempo para demorar. 5 minutos para encontrar o comboio.
O dia começa azul obtuso. Com uma estação circo. Com o meu cabelo sintético.
Praga não desaparece. Voa em círculos dentro. Sem tacto. Repentes de ausência. Ausência de mim nos telhados negros. Na altura desconstruída, oblíqua.
Neve agitada. Faz-se escuro.
O comboio passa como um travessão a introduzir-nos. Iluminado na noite densa, sem vogais. Somos três, aos turnos. Agora sou eu que não durmo.
Estou na Polónia. "Estás na Polónia!" Estou? A neve é "nevezinha". Neve por todo o lado. Sol em experiência. Fotos que escorregam. Pássaros e neve. Quadrados laranja escritos, amontoados, altos. Com interiores. Suportáveis. Lá fora o sol não passa da experiência. Temos de partir. Dar-nos. Partir. "Oh, stay! Don't U like Krakow?"
"The winter will be over in a few days..."
Praga não desaparece.
A cidade cai e quebra-se junto aos pés com o frio. Olhamo-la ainda em suspenso. Cai. Texturas líquidas, Vidros ao sol. Budapeste. Formigueiros nas mãos e nos olhos. Custa respirar ao mesmo tempo que tudo é tudo. Demasiado.
O gato dorme sobre uma cama do "Ganesh Palace". Ross também. Despido, entre vermelhos e sintomas de incenso. Ídolo.
"More sugar: nice going!"
Mochila revolvida por roupa húmida. Às costas. Esquecemo-nos de pedir contactos ou mais estórias. Não somos mais que espuma. Há que perder. "É esta a carruagem? Vamos para onde?"
"Está tudo bem, mãe! Não consegui telefonar ontem porque estava em... (estico-me fora da cabine) Onde estivemos ontem???"
"Polónia!!"
Estive?
Zagreb é azul confuso. Rodopiante. Com neve em migalhas. Nas mangas, no pescoço, na boca. Há crianças pintadas pela praça, com sons de violino. É Carnaval quando já nem medíamos o calendário.
Corremos em círculos. Rodopios. A terra sobe e desce e há pessoas nas esquinas apagadas a rezar. Sem entendimento.
Corremos em círculos. Não há quem nos devolva. Mas já passou...Não foi nada.