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segunda-feira, outubro 27, 2003

Estavam o frio e uma lareira acesa na sala. O frio calado a um canto sobre o chão de azulejo.
Estavam os risos dos mais pequenos no pátio, porque saltavam uma fogueira "a sério", com as castanhas e as cores vermelhas.
Estava um céu carregado. Negro e azul eventual.
Estava a noite. E uma hora à espera de registo.
O "sr doutor", padre e dono da casa, entrou a pedir fósforos. "Eu sabia que os tinha por aqui..". E um rosto a rebolar sobre o corpo a seguir tudo com atenção.
Estava a chuva a cair como teia lá fora.
Depois passaram uns minutos. Uns minutos e uns olhos a rebolar no tecto.
Depois havia água negra pelo chão de azulejo. O silêncio tinha saído a correr com os pequenos para o pátio, para longe do pátio. Havia gritos. E uma teia vermelha no tecto, a rebolar os olhos. Depois os gritos a correr. E a água em baldes sobre a lareira acesa. E a água em chuva sobre o tecto. Correram as pernas e os baldes e as vozes.
" Olha os livros!"
"O que faço com livros?"
Os miúdos a correr longe, (contrariados porque queriam o vermelho).
Correram escadas e pernas e baldes e louça. E livros a ser abraçados e arrastados para fora.
A teia vermelha alta. Fumo. Mais fumo. Água negra pelo chão. A rebolar-se na fogueira.
Água sem pés a alastrar na sala e tecto. Chuva sem luz lá fora. Com o silêncio dali corrido.
O "sr doutor" a olhar os livros com os cantos húmidos, a olhar os azulejos de água. A olhar...
"Os fósforos já não servem para nada... molharam-se"
Os miúdos continuaram a correr com a água lá fora. Ouviam-se os risos.

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