pedras
Passava ontem na minha rua à noite (que é tão diferente da de dia!) quando vi um saco de lixo. Um saco de lixo que se contorcia como se fizesse digestão. O barulho do plástico e o plástico branco a olhar de olhos revirados para mim. O meu pensamento imediato foi tratar-se de alguma cria felina abandonada. Depois de uns segundos em suspenso continuei a andar. Provavelmente seria um ratito. Seria? Mas por que motivo me lembrei logo de um gato a precisar de mimo?
Gianni Rodari entreteve-se na década de 30 a anotar os mecanismos que o levavam a criar e alterar rumo de uma qualquer história que contasse. As palavras mexem connosco, são pedras lançadas à água (a metáfora é sua em a "Gramática da Fantasia"). São pontos de encontro de pensamentos incontáveis inenarráveis. Mas onde fui eu buscar o gato?
Cheguei a casa. Passei pela cozinha vazia e acesa no calor. Uma espiral de borboletas brancas a surpreender-me os gestos... e eu esqueci o gato.
Lembrei-me de sabão.