"na rua do firmamento a noite caminha espalhando poemas"
(E.E. CUMMINGS)
O sol arrefece na mão fechada do mar. A água ferve e sobe nas caldeiras. Sobe e transborda nas casas.
A avó ferve na cama. Treme. Diz que passou a noite a descascar batatas para a sopa. A mão ferve fechada. Sobe à testa. Diz que se enganou no sal e que toda a gente está à espera da sopa.
(Na rua as laranjas são esmagadas pelos autocarros trauteados pelos rapazes. São flores citrinas nos paralelos. )
O sol arrefece e cai redondo nas têmporas dos edifícios. A gente são desenhos mal feitos, a esvair-se dentro das montras dos cafés. Trazem bocas e embrulhos. Corações cheios de solstícios. Tremem.
A avó diz que esta noite passou-a a temperar a sopa. De mão aberta.